O cabeça-de-lista da UNITA às eleições gerais angolanas, Isaías Samakuva, admite “levantar o país para a rua”, numa manifestação nacional, contra as constantes e mais do que descaradas violações da lei eleitoral que, no seu entender (bem como no de todo a sociedade angolana com excepção da afecta ao regime), favorecem o MPLA.

“Para impedir que cheguemos ao dia das eleições com irregularidades (no processo eleitoral) nós ainda colocamos a possibilidade de levantar o país para a rua para impedir as violações da lei, para que o processo atinja um clima de transparência”, afirmou Isaías Samakuva numa entrevista concedida à agência Lusa e à RTP, em Mbanza Congo.
Questionado sobre o que significa “levantar o país para a rua”, o líder da UNITA esclareceu que se trata de organizar uma grande manifestação nacional nos dias que antecedem a ida dos angolanos às urnas no dia 23 de Agosto.
Isaías Samakuva considera, no entanto, que ainda há tempo para que a Comissão Nacional Eleitoral – órgão que pela sua prática se assume como sucursal do MPLA – corrija algumas das imensas irregularidades que possam ter impacto no resultado das eleições.
“Consideramos que algumas irregularidades podem ser corrigidas para que no dia das eleições possamos dizer que aceitamos os resultados”, disse o líder do principal partido da oposição angolana, recusando-se a clarificar se vai ou não reconhecer os resultados eleitorais se a actual situação se mantiver.
Entre as irregularidades apontadas por Isaías Samakuva contam-se a centralização da contagem de votos em Luanda em vez de ser nas assembleias de voto, dificuldades de acesso a delegados dos partidos nas diferentes mesas de votos por todo o país e a existência de 85 mil cartões de eleitor que ainda não foram entregues a cidadãos que os solicitaram.
“Se a UNITA perder, mas com resultados credíveis, nós temos de aceitar a vontade dos cidadãos”, disse Isaías Samakuva.
O líder da UNITA escusou-se a admitir uma eventual coligação com outras formações que permitisse equilibrar o resultado ou ultrapassar o MPLA, mas assumiu que outras forças políticas possam juntar-se à eventual manifestação nacional contra as irregularidades do processo eleitoral.
“Se quiserem vêm, se não quiserem a UNITA faz”, concluiu.
Em Junho último, a UNITA organizou uma grande manifestação nacional contra as empresas contratadas pelo Estado angolano para o processo eleitoral de 23 de Agosto — a portuguesa, mas ligada a capitais angolanos, SINFIC e a espanhola INDRA –, prometendo sucessivas manifestações caso os procedimentos não fossem alterados. No entanto, estes protestos subsequentes não se realizaram.
Angola realiza eleições gerais a 23 de Agosto, num acto eleitoral marcado pela ausência do Presidente Eduardo dos Santos – há 38 anos no poder – do boletim de voto. O cabeça de lista do MPLA – partido que governa Angola desde 1975 – será o general João Lourenço, ministro da Defesa.
Folha 8 com Lusa