sábado, 23 de setembro de 2017

(IESE) deve aumentar o grau de pluralismo nos seus grupos de investigação

O historiador francês Michel Cahen desafiou, esta semana, o Instituto de Estudos Sociais e Económicos (IESE) a aumentar o grau de pluralismo nos seus grupos de investigação, pois, na sua óptica, apesar da reorientação das linhas de pesquisa, em 2009, ter permitido uma maior operacionalidade na investigação, a mesma não garantiu o pleno pluralismo e heterodoxia. O desafio foi lançado, esta terça-feira, durante a abertura da V Conferência Internacional do IESE, que ontem terminou, em Maputo. Dirigindo-se a centenas de participantes que vieram celebrar o 10o. Aniversário do IESE, Cahen, um conhecedor profundo da realidade política moçambicana, disse que “os grupos de investigação não operaram a viragem que se previa” embora note que os pesquisadores de economia e desenvolvimento parecem marxistas, o mesmo que não acontece com o grupo de pesquisa de pobreza e protecção social “que me parece nitidamente não-marxista, talvez hayekiano”. (NdR: de Friedrich Hayek) . Sublinhar que são fundadores destes grupos, Carlos Nuno Castelo-Branco e António Francisco, respectivamente. “Seria um grande desafio do IESE aumentar o grau de pluralismo, que já é muito grande na instituição, mas dentro de cada grupo de investiga- ção. O pluralismo nunca é uma mera convivência ou respeito mútuo, mas IESE deve aumentar a pluralidade na investigação Por Abílio Maolela um método”, disse, antes de rematar: “dentro do IESE ainda se pode discutir o marxismo”. Para o historiador, a Universidade deve ser fundada sobre o pluralismo universalista e independência cientí- fica, embora reconheça que a ciência não é independente das ideologias. “Pode haver uma universidade pública com um centro de estudos do marxismo, mas integrando pesquisadores de várias orientações. As instituições de pesquisa devem promover o pluralismo como método”, destacou, frisando que é marxista, mas nunca foi a favor do partido único. Voltando ao IESE Cahen fez notar que “são poucos os textos publicados pelo IESE que discutem as posições das várias correntes presentes nele. Cada um defende as suas posições, sem, a meu ver, debater suficientemente com os outros”. Cahen prestou homenagem ao “CEA marxista” (O Centro de Estudos Africanos criado por Aquino de Bragança depois da independência na Universidade Eduardo Mondlane) e a UFICS (Unidade de formação e investigação em Ciências Sociais) de onde Cahen tem recebido muitos alunos na Universidade de Bordéus, candidatos a graus de mestrado e doutoramento. O CEA e a UFICS foram alvos de perseguições violentas pelos sectores mais ortodoxos e conservadores na Frelimo, no tempo do partido único, o primeiro centro, e a segunda instituição, já na fase do capitalismo liberal. Numa comunicação de quase uma hora, o pesquisador do Centro de Estudos de África Noire (CEAN) destacou as abordagens dos trabalhos da instituição, em particular do académico e economista Castelo-Branco, que a propósito da governação de Armando Guebuza, fala em “acumulação capitalista nacional”, caracterizada pela existência de proprietários sem capital e oligarcas sem produção. Cahen coloca em causa se existe em Moçambique e em casos idênticos uma acumulação primitiva do capital”, questionando “se os oligarcas sem produção vão produzir uma burguesia nacional, exportando os seus capitais para fora?” Para ele o fenómeno é apenas um prognóstico, pois, “rico não é sinónimo de burguês e pobre não é sinónimo de proletário”. “Por exemplo, Mobutu Sese Seko, que tinha uma das maiores fortunas mundiais, não era um burguês, mas era um bandido, cuja fortuna não veio da sua capacidade de organizar a produção e comercialização, mas do roubo do Estado”, observa. “Será possível, no século XXI, haver revoluções nacionais burguesas na periferia (do capitalismo), em países que já não tinham uma burguesia nacional?”, questiona Cahen, pegando a China como o exemplo das últimas revoluções burguesas do século passado, ao destruir a burguesia nacional e permitir uma acumulação primitiva forte e a industrialização do país, quando se fez a viragem para o capitalismo. Prosseguindo, Michel Cahen disse que no caso sul-africano havia uma burguesia nacional branca e indiana, mas que se encontra num processo de fusão com a negra, no pós-apartheid, enquanto, em Moçambique, o sistema marxista-leninista não conseguiu colocar em prática o seu projecto de acumulação primitiva do capital. Estudos sobre autoridades comunitárias As observações do orador principal da conferência, que discute os desa- fios da investigação social e económica em tempos de crise, não param por aqui. Discutindo os estudos sobre os processos eleitorais, no país, Michel Cahen destacou que dos 33 textos publicados pelo IESE, apenas três incidem sobre os partidos políticos, sendo que destes nenhum fala da Frelimo, o que não deixa de ser problemático. “A descentralização é estudada num sentido institucional e não político, pois, atrás de cada administrador ou chefe de posto administrativo há um escalão da Frelimo que tem a realidade do poder. Por isso, precisamos de estudos sobre as ditas autoridades comunitárias, que são, na prática, uma duplicação local da Frelimo”, anotou, antes de se queixar da ausência de trabalhos sobre o género, tendo como exemplo o evento que só teve uma comunicação sobre o género, das 103 apresentações. Para além da produção científica daquela instituição de pesquisa, Cahen observou ainda a distribuição das suas publicações, destacando que, em 2014, 63% das publicações gratuitas foram distribuídas, em Maputo, 7%, em Nampula, 2%, em Sofala. “Devemos ”dessulizar o IESE e internacionalizá-lo, pois, é mau que as pesquisas estejam apenas publicadas no IESE”, sublinhou. Ele argumentou que, para os académicos, é importante ter os seus trabalhos publicados em revistas científicas internacionais, dando como exemplo o caso do Brasil, que tem um vasto leque de instituições de pesquisa e se pode publicar na língua portuguesa. Porém, não deixou de congratular o trabalho da instituição, afirmando que a mesma devia reivindicar a pertença de apóstolos da desgraça porque “ser apóstolo da desgraça é um método eficaz para lutar contra a desgraça”. Dívidas ocultas Comentando, na ocasião, em rela- ção às dívidas ocultas, Cahen disse que estas estão ligadas à corrupção estrutural, porque a elite moçambicana não é uma burguesia, mas “um corpo social rendeiro procedente da burguesia internacional, que negoceia a sua inserção no sistema mundial”. Para o historiador, a corrupção é uma remuneração adicional, que não provoca a acumulação de capital, mas a sua fuga. “Estudar os processos de corrupção, lutar contra a corrupção e contra as dívidas ocultas não é uma atitude ética, mas é um combate político a favor de um Estado Social”, disse, congratulando o IESE pelas suas interve

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