quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

Rio não será “politicamente correcto”, mesmo que isso choque a corte lisboeta


O sucessor de Pedro Passos Coelho começa por estes dias a fazer convites para os órgãos nacionais do partido.
Rui Rio foi eleito líder do PSD nas eleições de sábado
Foto
Rui Rio foi eleito líder do PSD nas eleições de sábado LUSA/FERNANDO VELUDO
Quando no sábado Rui Rio assumiu a partir do Porto a vitória das eleições directas no PSD deu um sinal de que, com ele na liderança do partido, muita coisa pode mudar, a partir do momento em que tomar posse como novo líder dos sociais-democratas. Logo nessa noite houve quem se insurgisse contra a opção de ficar no Porto, considerando que novo líder deveria fazer o seu discurso de vitória a partir da capital.
Indiferente a quem pensa diferente, Rui Rio não pretende mudar-se de armas e bagagens para Lisboa, optando, para já, por manter a sua residência no Porto. E a estratégia deve passar por estar uma parte da semana em Lisboa e outra no Porto, onde tem a família, até porque este é o tempo de ouvir as pessoas e de fazer convites para os órgãos nacionais do partido.
“Rui Rio não é pessoa para fazer grandes cedências ao politicamente correcto, ele faz aquilo que deve fazer em cada momento, é um homem com apurado sentido do dever e, portanto, faz aquilo que deve e não aquilo que é politicamente correcto”, declara o antigo secretário de Estado do Desenvolvimento Regional de Passos Coelho e ex-presidente da Câmara de São João da Madeira, Castro Almeida.
Quem o conhece bem, como é o caso de Castro Almeida, sabe que o ex-autarca do Porto vai fazer o que entender, mesmo que isso choque a “corte lisboeta”. O futuro inquilino da São Caetano à Lapa é um homem muito meticuloso e um estudioso profundo dos dossiers e não lhe basta saber para onde vai - quando se desloca a algum lugar, sabe a que horas vai chegar, onde é que o carro vai parar e quem o vai receber. “Com o dr.Rui Rio, não existe ‘devo chegar pelas 15h/15h30.’ Ele sabe exactamente a que horas vai chegar e é exactamente assim”, confidencia fonte social-democrata, notando que há um rigor em tudo o faz. A propósito, acrescenta que “cada palavra do discurso de vitória que o novo líder do PSD leu na noite eleitoral foi meticulosamente pensada”.
O provedor da Santa Casa da Misericórdia do Porto, António Tavares, afirma categórico: “Estamos a falar de uma viragem no modelo de actuação política em Portugal. Até agora vigorava o modelo do politicamente correcto, mas Rui Rio não é pessoa para privilegiar o politicamente correcto, foi assim na Câmara do Porto e em termos nacionais vai fazer a mesma coisa”.
Declarando que as “férias acabaram para o Governo de António Costa”, António Tavares, que é o responsável pela área social da moção de estratégia global que o novo líder do partido vai levar ao congresso nacional, em meados de Fevereiro, não tem dúvidas de que, com Rui Rio ao leme do PSD, “vai também acabar a deriva do partido, ao sabor das ondas”.
Daqui até ao congresso – diz ainda António Tavares –, o presidente do partido vai aproveitar para falar com as pessoas e tentar perceber como estão as coisas no grupo parlamentar e na secretaria-geral, e vai aguardar por aquilo que lhe vão dizer. “Este é o tempo do congresso, de preparar as listas”, diz.
Depois de mais de um ano no terreno, Rui Rio chega à liderança do PSD com a colaboração de figuras do partido, mas também com pessoas que não têm filiação partidária. A esta equipa, a trabalhar com Rio há mais de um ano, também se juntaram apoiantes mais recentes e que tiveram um papel importante na eleição do novo líder, como aconteceu com o deputado Pedro Alves, presidente da distrital do PSD de Viseu. O presidente da Câmara de Viseu, Almeida Henriques, era o mandatário nacional de Santana Lopes.
O antigo ministro da Educação e ex-assessor político de Cavaco Silva, David Justino, responsável pela coordenação da moção de estratégia global do novo líder do PSD, é uma das figuras que se destacam nesta equipa que está com Rio desde que este ponderou apresentar uma candidatura à Presidência da República – um projecto do qual desistiu, a partir do momento em que Marcelo Rebelo de Sousa disse que seria candidato a Belém.
De resto, David Justino é uma pessoa que “Rio ouve com muita frequência” e, na opinião de várias pessoas contactadas pelo PÚBLICO, “fez um trabalho notável” a nível da moção de estratégia global.

“Enorme cumplicidade política”

Não se pode dizer que Rio tenha um núcleo duro propriamente dito. O seu grande estratega político é o professor universitário Manuel Teixeira, que foi director do jornal O Comércio do Porto, administrador do grupo Lusomundo e também chefe de gabinete de Rui Rio na Câmara do Porto. São de uma “enorme cumplicidade política”. Conhecem-se há muitos anos, desde o tempo em que o agora líder do PSD era um jovem estudante da Faculdade de Economia da Universidade do Porto. A partir daí nasceu uma forte e longa amizade que não passa por partilharem férias juntos, mas por projectos políticos. Com Manuel Teixeira na direcção de O Comércio do Porto, os jovens sociais-democratas Rui Rio, José Pedro Aguiar-Branco, José Puig e Agostinho Branquinho são convidados a escrever no jornal, ganhando notoriedade pública.
O ex-chefe de gabinete de Rio nunca aparece, opta por uma estratégia de retaguarda, de low-profile, mas é com ele que discute todas as questões e todas as hipóteses e foi pela pena deste professor do Instituto Superior de Línguas e Administração que passaram os principais documentos e as intervenções de fundo feitas pelo candidato ao longo da campanha. E não foi por acaso que, durante a campanha para as directas, Rio quis saber o que pensavam os militantes (contactou mais de 15 mil) da possibilidade de o PSD viabilizar um Governo minoritário do PS. As respostas foram… positivas. Daí que, quando o candidato lançou o tema na recta final da campanha, estava respaldado no “sim” dos militantes que lhe deram a vitória e que, na opinião de um elemento campanha, “abalou muita gente”.

Sem comentários: